segunda-feira, 21 de maio de 2018

Essa tal de Medicina (cordel)


Hoje vou falar certeiro
Para todos do meu dote
Inspiração não me falta
Pego a rima no rebote
Faço verso e arrepio
E a Medicina é meu mote.

É um sonho acalentado
Por muitos desde criança
Para mim passou assim
Trago vivo na lembrança
Que passar em medicina
Era a minha esperança

Acordava bem cedinho
Antes do galo cantar
Pegava os livros ligeiro
Pra nada me atrapalhar
Estudava o dia inteiro
De noite ia descansar.

Português, Literatura,
Física e Biologia,
Matemática e História
E também Geografia,
De Química nada comento
Era pra mim agonia.

Vim do sertão do Nordeste
Pajeú e Moxotó
Morei em Ouricuri,
Águas Belas, Cabrobó;
Vi seca, mata e agreste,
Vi fome matar sem dó.

Naquele tempo seu moço
Tinha mais de uma opção
Era tanto pra colher,
Mas não duvidava não
Eu queria a Medicina
Porque era minha paixão.

Fui fazer vestibular
Nas bandas da capital
Durava horas seguidas
Era espera rezando,
Amor incondicional.

Com o ofício cumprido
Agora era esperar
Dias de muita agonia
Não vale a pena contar,
Mas finalmente a notícia
Veio para consagrar.

Fui aprovada, gritaram,
Estava na Medicina.
Pensei que estava sonhando,
Fiquei meio na surdina,
Só iria acreditar
Vendo o jornal na matina.

Meu nome estava estampado
Com letras bem garrafais
Para mim sonho sonhado
E desejos ancestrais
De poder fazer melhor
Por direitos mais iguais.

Queria mudar o mundo
Como sonhei em criança
Inventar qualquer remédio
Deixar pra o mundo uma herança
Não me faltava coragem
E muita autoconfiança.

Ao entara na faculdade
Minha meta conquistei,
Pois queria uma carreira
Justa e honesta, pensei
Ia dar o meu melhor
E nisso me dediquei.

Foram anos de estudo
E muita dedicação
Noite entrando pelo dia
Trabalhando no plantão
Sem domingo ou feriado
Bônus, gratificação.

No dia de formatura
Festa e felicidade
Chegou enfim o momento
De deixar a faculdade
Tempo bom, passou depressa
No peito ficou saudade.

Qual a paga disso tudo?
Você pode perguntar
Valeu a pena doutor
Se matar de estudar?
Qual o final dessa história?
Faça o favor de contar.

Saúde não é um bem,
Não se compra, não se dá,
Não se fabrica ou se rouba
Só se pode conquistar,
Porém com sabedoria
Você pode auxiliar.

Pode escutar as lamúrias,
Pode segurar na mão,
Olhar no fundo dos olhos,
Aplacar a solidão
De uma mãe que perde o filho,
Dor maior, existe não.

Pode acompanhar um parto,
Ver uma criança nascer,
Pode ficar bem velhinho
E ver adulto, o bebê
Que você pegou no colo
Antes de a mãe dele ver.

Pode segurar a mão
De quem dá adeus a vida,
Pode consolar quem fica,
Tornar menos a ferida,
Fazer do vivo a vontade
E a morte menos doída.

Pode dar abraço forte
Em aluno ou paciente,
Pode tratar todo mundo
Como se o onipotente 
Numa fração de segundo
Tivesse virado gente.

Acredite sem medida
Na sua intuição
Sabedoria é ciência
Ciência é a tradição
Segure o seu caduceu
Com fé e dedicação.

Não se deixe enganar
Por qualquer das novidades
Elas passam, são modismos
Bobeiras banalidades
Escolha o tratamento
Com suas habilidades.

Dê aos mestres honrarias,
Aos seus colegas respeito,
Nunca fira seus princípios,
Da dor não tire proveito.
Medicina é sacerdócio,
É pra quem pode esse pleito.

A vida não é comum,
Todo mundo é precioso.
Pra mãe não tem filho feio,
Velho ou doente, é formoso.
Não se engane seu doutor,
Gordo ou careca é mimoso.

Seja de noite ou de dia
Vão bater na sua porta
Telefone, whatsapp,
Qualquer meio, não importa.
Vão querer você presente
Confiança não se exporta.

Saiba dizer a verdade
Usando a palavra certa,
Mas não roube a esperança
Para quem a vida é incerta.
Seja porta e seja porto,
Conforto, pão e coberta.

Dinheiro justo e honesto
Não é vergonha ganhar
Todo mundo que trabalha
A recompensa terá
Não se avexe com o andor
Seu Santo não vai falhar.

O abraço, a gratidão,
O amor do paciente
Não tem dinheiro que compre
O coração de quem sente
Que deve um pouco da vida
Ao doutor na sua frente.

Falar sobre a Medicina
Vista por meu intermédio
Não é ofício difícil
Nem é pra espantar o tédio
É puro amor explodindo
Paixão que não tem remédio.

Setenta anos completos
Tem a nossa faculdade
Merecidos benefícios
Trouxe à sociedade
Por isso nos reunimos
Com toda solenidade.

Todos juntos nesse dia
Que é de gala e de festa
Alunos e Professores
Poesia, canto e seresta
Fiz então esse cordel
E essa rima modesta.

E aos nossos funcionários
Por sua dedicação
Ofertemos com carinho
Por escolha e opção
O nosso abraço sincero
E a nossa gratidão

O cordel, minha medida,
A métrica é o meu forte
Desejo aquele que lê
Vida longa e muita sorte
Para exercer Medicina
Compaixão, respeito e porte.

Paola Tôrres, docente da Faculdade de Medicina da UFC.

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