A criação da FAMED

A criação da FAMED 


Primeira sede da FAMED vizinha ao Teatro José de Alencar
A ideia de criar uma instituição de Ensino Médico no Estado do Ceará começou a tomar corpo em 1939, quando o Prof. Antônio Austregésilo, grande nome da Medicina nacional esteve em Fortaleza, tendo sido hóspede do Dr. Jurandyr Marães Picanço, seu antigo e querido aluno.
Nesse ensejo, numa entrevista aos “Associados”, lançou ele a semente da criação de uma Faculdade de Medicina no Ceará. Se para uns a ideia carecia de bom senso, outros a abraçaram com entusiasmo. O entusiasta maior foi Jurandyr Marães Picanço, homem honesto, cônscio de suas responsabilidades e com prestigio não só na sociedade cearense, mas também a nível nacional.
No período de 1939 a 1946 a fundação da Faculdade de Medicina parecia ter caído no vazio, nessa época havia uma preocupação maior: a 2ª Guerra Mundial.
Em 1946, durante um Congresso de Médicos Católicos do qual Jurandir Picanço foi vice-presidente, novamente veio à tona essa possibilidade.
Naquela época voltaram à Fortaleza alguns de seus filhos ilustres, formados em Medicina, e com estágios no exterior, jovens e sonhadores. O entusiasmo desses moços e a influência do Congresso Católico recentemente acontecido fizeram surgir a Sociedade Promotora da Faculdade de Medicina.
Em 09 de junho de 1947 na residência de Jurandyr Picanço aconteceu uma grande reunião onde foi eleita a primeira diretoria da sociedade:
César Cals de Oliveira – Presidente de Honra
Jurandir Marães Picanço – Presidente
Antônio Jorge de Queiroz Jucá – 1º Secretário
Alber Furtado de Vasconcelos – 2º Secretário
Eliezer Sudart da Fonseca – Tesoureiro
Com a formação dessa diretoria constituíram-se também as comissões organizadoras e de propaganda. Faziam parte da Comissão Organizadora os doutores: Haroldo Gondim Juaçaba, Juvenil Hortêncio de Medeiros, Walter de Moura Cantídio e Raimundo Vieira Cunha. Na Comissão de Propaganda estavam: Waldemar de Alcântara e Silva, Josa Magalhães, João Batista Saraiva Leão, Tarcísio Soriano Aderaldo e Fernando Leite.
Naquela época era governador do Estado, o Desembargador Faustino de Albuquerque que de pronto assumiu o compromisso de lutar pela fundação da Faculdade de Medicina. Ao governo do Ceará, juntou-se o governo da República na pessoa do Presidente Eurico Gaspar Dutra que acolheu de bom grado os anseios dos médicos cearenses.
Com o apoio dos médicos e dos governos do Estado e do País, a semente da nossa Faculdade foi plantada em 13 de abril de 1948, quando o então Presidente General Dutra, e o Ministro da Educação Clemente Mariani, assinaram o Decreto que dava ao Ceará o privilégio de ter um curso médico. Foi criado assim o Instituto de Ensino Médico do Ceará.
O primeiro diretor da instituição recém-fundada foi João Batista Saraiva Leão, professor de Anatomia da Faculdade de Farmácia e Odontologia e a partir daquele momento, titular da cátedra de Anatomia da nova escola médica, sendo, o currículo do curso de Medicina implantado.
O primeiro vestibular foi realizado com 85 candidatos para 60 vagas, com exames escritos e orais.
As provas orais aconteciam em um grande anfiteatro, lotado de curiosos que vinham verificar quem eram os candidatos e quais suas habilitações. As provas eram públicas para que não pairassem dúvidas quanto a lisura destas. Dos 85 candidatos inscritos nesse primeiro vestibular, 10 foram classificados e apenas 03 obtiveram o diploma de médico naquela turma: Ana Nogueira Gondim, Hilda de Souza Magalhães e Raimundo Hélio Cirino Bessa.
No dia 12 de maio de 1948, o Professor Alfredo Monteiro, Diretor da Faculdade Nacional de Medicina, proferiu a Aula de Sapiência, ficando assim instalada a Faculdade de Medicina mantida pelo Instituto de Ensino Médico, na data que deu nome ao nosso Diretório Acadêmico.
Após três anos de funcionamento em 27 de março de 1951, foi divulgado o Decreto º 29.397, no qual o Presidente Getúlio Dornelles Vargas e o Ministro da Educação Simões Filho reconheciam o nosso curso de Medicina que passou a se chamar Faculdade de Medicina do Ceará.
Nossa primeira moradia, onde nascemos e vivemos nossos primeiros anos, foi um casarão da Praça José de Alencar, vizinho ao Teatro, na esquina da Rua 24 de maio, lugar sagrado para quem o frequentou.
A nossa transferência para Porangabuçu deu-se em 1957, aproveitando as obras do Hospital Carneiro de Mendonça, que tiveram início em 1944 e que logo em 1945 foram interrompidas.
Na época o Estado atravessava uma grave crise financeira e o Hospital Carneiro de Mendonça estava completamente abandonado, quando em 1949, o Governador Faustino de Albuquerque aprovou a transferência daquele nosocômio para o Curso Médico. O Deputado Federal Paulo Sarasate conseguiu as verbas necessárias para o reinício das obras, e em 1952, no Governo Raul Barbosa, a 1ª ala do hospital começou a funcionar. Ali foi instalada a unidade de tratamento de doentes portadores de doenças transmissíveis que viria a ser anos depois, o Hospital de Isolamento, embrião do Hospital das Clínicas.
Até então, a Santa Casa de Misericórdia era o local onde se ministravam as aulas práticas. Aquela casa de saúde foi de extrema importância para a formação acadêmica de quantos frequentaram suas enfermarias.
Em 1954, o Prefeito Paulo Cabral de Araújo transformou, de bem público em bem patrimonial, a área que mais tarde viria a ser o nosso campus limitando-o:
Ao norte – Rua Alexandre baraúna;
Ao sul – Rua Prof. Costa Mendes;
Ao leste – Rua Capitão Francisco Pedro;
Ao oeste – Rua Papi Júnior.
Em 04 de dezembro de 1956 deu-se o reconhecimento federal da Faculdade de Medicina, sendo criados na época os 37 cargos de Professor Catedrático.
Nesse mesmo ano, foi repassado o acervo do Instituto de Ensino Médico para a Universidade Federal do Ceará, cuja criação data de 1954 – 17 de dezembro de 1954, exatamente.
Nesses acontecimentos, a Fundação Júlio Pinto teve papel relevante para a execução dos projetos da Faculdade de Medicina, em sua transferência para Porangabuçu.
Esse foi o ciclo de ouro da Faculdade de Medicina, anos após ser condenada a perder a sua identidade e autonomia, passando a ser apenas um Curso de Medicina, integrado a um Centro de Ciências da Saúde. Esse fato foi determinado por força do sistema de governo de então e tivemos que aceita-lo, sem que fossem ouvidos nossos protestos.
Porangabuçu – o novo reduto.
Em 1958, no prédio que seria o Hospital do Câncer, cujas obras não tiveram a continuidade desejada, os professores Haroldo Juaçaba e Newton Gonçalves e Paulo Machado resolveram adaptar o que já havia sido construído para receber as Clinicas Cirúrgicas. Nessa época começou a funcionar o Hospital de Cirurgia, com a Clínica Propedêutica Cirúrgica e a 3ª Clínica.
Posteriormente, o Professor Paulo Machado trouxe a 2ª Clínica Cirúrgica para o Porangabuçu e, apenas a 1ª Clínica, cujo Catedrático era o professor Ossian de Aguiar, continuou na Casa de Saúde São Pedro.
A Urologia e a Tisiologia permaneceram na Santa Casa e a Traumato-Ortopedia ficou na Assistência Municipal, hoje Instituto Dr. José Frota.
Em 1959, numa tarde de sábado, o Presidente Juscelino Kubitschek inaugurou o Hospital das Clínicas. Esse era o grande sonho de todos nós, um hospital que, embora modesto, tinha os recursos exigidos para o bom desempenho do ensino. Iniciamos aí uma nova fase em nossas vidas.
A estrutura do Internato estava então montada e a 1ª turma, da qual fizemos parte, iniciou os seus trabalhos em 1962, respaldada pela criação da Residência Médica, que até hoje vem pontilhando a formação de médicos generalistas e especialistas que inundam o cenário médico nacional e internacional de grandes apóstolos da profissão.
Era um ciclo de ouro da Faculdade de Medicina que durou até 1973, quando o regime totalitário implantado no país em 1964 forçou uma reforma universitária tornando a Faculdade de Medicina um curso do Centro de Ciências da Saúde, sendo a matrícula dos estudantes feitas por disciplina, tendo os gerentes do regime conseguido o objetivo: acabar com a enturmação, período negro para a vida acadêmica.
Nunca concordamos com essa mudança e passada a revolta dos primeiros momentos, e com a lucidez restabelecida, nos insurgimos contra esta usurpação da nossa entidade. Enfrentamos uma longa batalha, que durou 20 anos, para recuperarmos o nosso “status” de Faculdade, o que conseguimos em maio de 1998 quando completávamos 50 anos de fundação.
O então Reitor Roberto Cláudio da Frota Ribeiro e o Senador Lúcio Gonçalo de Alcântara deram guarida as nossas pretensões, ambos contribuindo grandemente para que lográssemos êxito nesta luta.
O retorno à Faculdade de Medicina deu um novo alento a todos nós e foi o presente do cinquentenário da nossa Faculdade.
Nesse tempo já fazia presente a necessidade de expandirmos a Faculdade de Medicina para o interior do Estado, desejo concretizado no ano de 2000 com a criação dos cursos de Sobral e Barbalha.
Aqui depositamos nossos agradecimentos aos então prefeitos desses municípios, em Sobral Dr. Cid Ferreira Gomes, hoje Governador do Estado do Ceará, e Edmundo de Sá Filho, em Barbalha.
Vale salientar que esses novos cursos já formaram várias turmas de jovens médicos, todos com excelente desempenho profissional.
Atualmente a larga visão do Magnífico Reitor Professor Doutor Jesualdo Pereira de Farias, tem permitido grandes melhorias estruturais nos Cursos de Medicina da UFC, com reformas do complexo hospitalar, salas de aulas e laboratórios.
Não podemos deixar de lembrar também a reposição do quadro de professores, o que tem minimizado as carências dos nossos cursos.
Ao lado do Professor Jesualdo, está o nosso brilhante Professor Henry de Holanda Campos, Vice-reitor que não mede esforços para que sejam implantadas as melhorias que nos são necessárias.
A Faculdade de Medicina completa 65 anos tendo na sua direção o Professor Doutor José Luciano Bezerra Moreira, incansável lutador, que tem como Vice-diretora a Professora Doutora Valéria Goes Ferreira Pinheiro. A Coordenação de Graduação exercida pela Professora Doutora Yacy Mendonça de Almeida, tendo ao seu lado a Professora Doutora Elizabeth de Francesco Daher e no Núcleo de Desenvolvimento de Educação Médica - NUDEM, a Professora Doutora Maria Neile Torres de Araújo.
Nosso apreço pelo Centro Acadêmico XII de Maio que é a força jovem aliada e necessária no permanente cuidado pela busca da qualidade e manutenção da democracia no âmbito universitário. 

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